Pesquisar este blog

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Uma história verídica

Deixando de lado as diversas brincadeiras que desfrutamos no decorrer da nossa infência, desde pequeno, nutri um grande prazer em ouvir as pessoas contarem histórias, desde as mais corriqueiras até as bem elaboradas sobre fantasmas, sacis e outros produtos da criatividade interiorana.
Considero-me felizardo por ter vivido onde ainda era costumeiro os vizinhos sentarem-se nas suas calçadas no fim da tarde e deixarem sua imaginação fantasiar um pouco mais as suas lembranças voláteis.
Certo dia, me lembrando das tantas histórias que ouvi desde criança, uma delas tem me agarrado ultimamente, uma história que meu pai me contou, mais uma das tantas em que ele atuou quanto ainda morava no Rio.
Não me lembro de detalhes sobre qual bairro ele morava, ou em que ano isso aconteceu. Muitas vezes os detalhes podem servir para frisar a veracidade da história, acho que isso vai da capacidade do narrador em ser convincente. Mas vamos à história.
Meu pai tinha acabado de retornar do trabalho e estava conversando com os amigos quando ouviram alguém gritar quase que comemorando que uma mulher tinha se jogado na frente do trem que passava ali perto. Sempre me espanto como as pessoas podem vibrar quando seu tédio é afastado, qualquer evento que quebre a rotina é recebido de braços abertos, mesmo sendo, como na maioria das vezes, alguma tragédia.
Ao chegarem no local, meu pai e os amigos perceberam que a mulher na verdade havia se deitado com o pescoço na linha do trem. Mas a surpresa e o choque foram maiores por não encontrarem ao lado do corpo a cabeça da mulher suicída. Olharam ao redor mas não encontraram nada.
Até que um morador da rua, apareceu com os dentes arreganhados de tamanho triunfo em ter ganho o maior prêmio da festa. Ele carregava a cabeça da mulher segurando-a pelos cabelos, gritando "Olha a cabeça da mulher aqui!" e deixando os curiosos ao redor vislumbrarem o seu troféu. A maioria aconselhou que ele parasse com aquilo, abominavam a atitude do rapaz de zombar do corpo, mas talvez ele apenas visse aquilo como inveja... Creio que existam muitas pessoas como este por aí.
Terminado o alvoroço, todos voltaram para as suas casas, acredito que já fantasiando cenas que poderiam ter acontecido, e que certamente acrescentariam quando fossem contar aos pobres infelizes que não poderam presenciar o fato.
Então, no dia seguinte, desta vez meu pai ficou sabendo pelos vizinhos que o homem que declarou posse da cabeça de uma pessoa morta no dia anterior, no mesmo horário que a suicída, deitou-se na linda do trem e teve o mesmo fim que a mulher.
Se o fim da história foi apenas um fim fantasiado pelo meu pai, eu não sei. Mas a verdade realmente não me importa. Para mim, a verdade estraga as histórias. Para mim, melhor que presenciar os fatos, é ouvir os vários toques pessoais adicionados pelos narradores.

Demorei mas voltei... tentar postar com mais frequência. xD
Abraço, pessoal.

Música para ouvir: A Boy Named Sue - Johnny Cash