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sexta-feira, 17 de junho de 2011

Pausa temporária para acumular material

Caso não tenha se deixado enganar pelo título pomposo, sim, bloqueio é uma vadia. Enquanto me preparo para desenvolver a reta final do meu primeiro conto grande que saiu do papel (uhuuu), venho aqui para escrever algo e não esfriar a cachola.
Não sei quanto aos outros, mas acho que as ideias e a criatividade fluem melhor quando há uma perturbação na força (hahaha hoje estou terrível).
Só sei que funciono melhor quando estou cheio de dúvidas, pra baixo... quando não estou legal. O que é um problema porque começo a pensar mais e mais, tenho tantas ideias que acabo me animando e voltando ao ócio criativo.
Então antes que o raio de negatividade se extirpe, compartilho algum resquício êxtase criativo:

As palavras moem o estômago num soco de fúria
Quando não se estava pronto para a reflexão.
Fadado a encarar seu interior,
Derrotado pela própria compaixão,
Porque sabe que errou ao acertar,
Sabe que errou por não tentar.
Viveu sem outrem ao menos semelhante
Não faz parte deles,
Um estranho errante.
Afoga-se em seus próprios lamentos.
É areia movediça de si.
Em cavernas sem entrada vaga
Esperando que o tempo
Lhe construa uma saída.


Música para ouvir: Hurt - Johnny Cash

sábado, 4 de junho de 2011

Uma Noite no Bar - Parte 3 - Daniel Smith

Eu era rico meses atrás... Eu era dono de uma grande transportadora no meu estado, tinha poder, uma família, minha vida estava completa. Até que o pior aconteceu.
Eu cheguei em casa, uma mansão que tinha comprado a 7 quilômetros da praia, estava me sentindo ótimo, tinha fechado negócio com um importante cliente, podia prever a minha aposentadoria chegando. Quando entrei, notei que as luzes estavam apagadas, pensei que Jessie provavelmente estava tomando banho na nossa suíte, aproveitei para fazê-la uma surpresa quando ela saísse do banheiro. Fui à cozinha, peguei uma garrafa de champanhe que meu sócio, Steve Gacy, havia me dado de presente no meu aniversário fazia poucas semanas, e fui até o nosso quarto fantasiando não só a promissora noite que teríamos mas o resto das nossas vidas agora que dinheiro não seria mais problema e poderia me dedicar completamente à Jess.
Chegando ao quarto vi a porta fechada e uma luz fraca saindo por baixo dela. Meu corpo estremeceu de excitação, eu estava louco para possuir seu corpo macio e perfeito. Abri a porta devagar para que pudesse surpreendê-la mesmo que já tivesse terminado o banho e estivesse se vestindo, seria até mais excitante – eu pensei. Meu peito ainda se remói de ódio quando relembro a cena, mesmo quando não quero relembrar, as imagens de Steve em cima de Jess, penetrando-a com ímpeto, ofegante, e Jess com as pernas ora esticadas para o alto, ora flexionadas, contorcendo-se de prazer, gemendo loucamente... Os dois estavam em tamanho êxtase que nem notaram a minha presença. Oh Deus... Os segundos que se passaram enquanto eu processava aquilo tudo foram eternos, como se cada segundo fosse uma gota caindo no fundo de uma caverna, ecoando na minha alma. Entretanto eu preferiria a eternidade naquela situação à reação que tive diante daquilo.
Meu corpo agiu quase que espontaneamente, mas eu sabia que queria fazer aquilo. Corri até a cama e acertei Steve na cabeça com a garrafa de champanhe, ele caiu por cima de Jessie descordado e ela abriu os olhos ainda sem entender o que estava acontecendo. Eu estava em pé em cima da cama e ela me viu, eu olhei nos olhos dela sem demonstrar a mínima reação. Jessie tentou se desvencilhar de Steve – creio que pensando em alguma maneira de explicar que não era a vadia que estava gemendo como uma cadela, seria até engraçado vê-la tentar – mas eu pisei nas costas de Steve, fazendo peso e impedindo-a de se mover, e acertei a cabeça dele mais uma vez com a garrafa, desta vez ela se quebrou fazendo uma mistura de champanhe com sangue em cima de Jessie e pela cama. Ela ficou imóvel, me olhando apavorada. Deus me perdoe, mas eu estava me sentindo ótimo fazendo aquilo, me sentia completamente vivo, meu sangue fervia como nunca fervera antes. Eu diminuí a pressão nas costas de Steve e Jessie mudou a expressão, como se estivesse perguntando se agora tinha permissão para se mover ou se explicar, eu permaneci indiferente, olhando-a nos olhos apreciando o seu medo. Ela tentou sair da posição, seus olhos arregalados e a sua respiração desesperada, procurando uma forma de explicar o porquê de ainda estar com Steve dentro dela, tentei não rir quando imaginei perguntá-la se agora ela era necrófila. Quando estava conseguindo sair debaixo dele, eu chutei-a no rosto com toda a força e ódio que eu tinha no momento, senti dentes quebrarem dentro da sua boca pela ponta do meu sapato. Ela gritou de dor e tentou fugir, mas a peguei pelo cabelo e enfiei o pedaço da garrafa que estava segurando no seu pescoço, o sangue espirrou longe e eu a assisti gorgolejar até a morte. Quando tudo acabou eu comecei a rir, dei altas gargalhadas, olhei para o corpo de Steve e disse “O condenado comprou a própria corda! Hahahaha”.
Creio que levou alguns minutos para eu voltar ao normal, voltar a pensar, a temer. Saí correndo de lá, não mexi em nada, não peguei nada, apenas saí correndo de lá, fui até o meu carro e abri o porta -malas, eu sempre guardava uma muda de roupas lá já que era comum ter de viajar de última hora para alguma reunião. Me troquei e fugi dali, peguei um ônibus para outro estado e abandonei a sociedade, me tornei um mendigo, foi a única coisa que pude pensar em fazer para que não me encontrassem.
Vaguei pelo país por meses, até que vim para nesse bar esta noite. Com algum maluco armado achando que o demônio está no bar.
Talvez pela minha aparência agora, magro – esquelético, na verdade – e mal vestido, ele voltou a sua atenção para mim, ficou me olhando fixamente, os outros caras no bar olharam para mim também.
-Eu não sei se você vai me entender ou sair atirando para todos os lados mas, eu não sou o demônio, e disse. Eu sou apenas um mendigo prestes a morrer, seria até um favor que você me faria se me matasse agora, mas eu não sou o demônio.
Ele fraquejou, seu olhar voltou-se para dentro de si e então ficou imóvel por um tempo. O motoqueiro ao meu lado e o outro cara, mas distante do outro lado, pareceram ficar mais aliviados, meus músculos também se afrouxaram e me senti mais leve. Então o homem começou a falar:
-Ele tomou a minha esposa e a minha filha, arruinou a minha vida – pôs a mão no bolso e tirou uma bala, carregou o revólver e o destravou – não me resta mais nada senão a vingança, e hoje é o dia.
O homem apontou o revólver para cada um de nós, analisando a nossa expressão, provavelmente esperando alguém começar a falar uma língua desconhecida com uma voz gutural, e continuou “eu só tenho uma única bala, e o destino dela será escolhido essa noite”.
Ele pôs a arma na mesa, pegou a garrafa que o barman deixara conforme tivera ordenado e encheu o seu copo. Virou de uma vez, pegou a arma apontando para o motoqueiro e disse:
-Você, fale!
Meu corpo sofreu, uma onda de alívio. Apesar de tudo, ainda queria viver. Foi então que, numa fração de segundo, vi Jess atrás do homem sem braço, ela me encarava e ouvi a sua voz na minha cabeça “Hoje a vingança será feita, Dan. Hoje nos encontraremos.”. Eu congelei, olhei para o homem, ele encarava o motoqueiro, voltei os olhos para onde Jessie tinha aparecido e ela permanecia lá, me encarando, esboçando um suave, quase imperceptível, sorriso.
Senti meu coração bater descontrolado agora, tentei ao máximo não transparecer a minha tensão dadas as circunstâncias. O motoqueiro começou a chorar...
Música para ouvir: Hey Joe – Jimi Hendrix