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sábado, 21 de maio de 2011

Uma Noite no Bar - Parte 2 - Bob Wilson

Meu nome é Bob Wilson, tenho 53 anos. Na verdade eu fiz aniversário há uma semana, foi quando decidi sair da cidade e viajar um pouco. Poucas coisas me seguravam àquele lugar estressante e caótico. Depois que compraram a minha loja, a vida começou a valer à pena, éramos só eu e Barb, felizes... Barbara, como sinto a sua falta. Por mais que eu tente, por mais que eu beba, não consigo parar de pensar que sou o culpado por você não estar aqui hoje.

De qualquer forma, após o meu aniversário, decidi vender a casa e todo o resto – menos a moto, consegui recuperá-la - e sair pelo mundo, sem destino, procurando por paz de espírito, por uma maneira de fazer com que essa dor vá embora. Por uma semana eu andei pelo país, sem saber para onde ir e sem ter preocupação de quando irei chegar, até que encontrei o que parecia ser uma trilha paralela a poucos metros da estrada, alguma coisa me fez seguir o caminho que aos poucos foi se distanciando da estrada até não ser possível mais vê-la. Resolvi seguir em frente à procura de algum posto de gasolina ou uma rodovia e acabei encontrando esse bar, estacionei a moto atrás dele, mais um dos costumes que herdei do meu tio, como ascender cigarros com palitos fósforo e beber antes de comer.

Quando entrei no bar, vi um cara magro quase anêmico sentado perto do balcão tomando o que farejei ser whisky, andei até a mesa ao lado e me sentei, como ele, de frente para a porta. Segundos depois saiu um homem do banheiro, ele olhou para mim e não disse nada, foi para trás do balcão pegou uma garrafa e um copo, veio até mim e me serviu. Antes de pedir uma cerveja ele já falou, “Só temos whisky aqui, amigo. A placa dizendo isso deve ter caído de novo”. Dei uma tragada e todo o desejo da cevada se foi, nunca tinha provado uma bebida como aquela. Aquilo realmente começou a limpar a minha mente, pensei que enfim conseguiria esquecer o acidente, a dor... Me bateu uma profunda melancolia, mas eu me sentia extremamente bem, como não tinha me sentido desde a morte de Barbara. O silêncio no bar, a pouca luz quase imperceptível lá fora, tudo relaxava... me senti como se pudesse esquecer tudo e morrer em paz.

Eu estava no terceiro copo quando me subiu um calafrio na espinha, pude ver o whisky vibrar dentro do copo, era a minha mão tremendo. Eu olhei para o cara sentado a mesa ao lado e a sua expressão me dizia que eu não era o único a me sentir assim. Pude ouvir passos fora do bar e depois passou pela porta um sujeito com uma barba menor que a minha e sem um braço, seus olhos estavam fundos e vazios, algo me disse que a sensação que eu e o meu vizinho sentimos viera dele. Ele caminhou e sentou a mesa seguinte, ao lado do meu desnutrido e silencioso companheiro de bebedeira. O barman foi até ele e fez o mesmo procedimento que fizera comigo, o homem não protestou, talvez quisesse mesmo whisky, ou nem tivesse percebido que o serviram, de qualquer forma ele não tocou no copo e permaneceu calado.

O clima ficou pesado durante uns dois minutos, eu estava pensando em pagar e sair dali quando ouvi o som de um carro se aproximando, normalmente isso não seria nenhum acontecimento extraordinário, mas simplesmente não consegui levantar, o clima ficou mais pesado ainda, não sei o porquê, mas o homem sem braço pareceu voltar à realidade. Segundos depois entrou um homem, eu não olhei para ele, continuei inclinado olhando para o meu copo, ele ficou em pé, parado na porta até que o barman perguntou se ele queria sentar, ele foi até a última mesa e se sentou, foi servido e o barman disse algo a ele que não consegui ouvir, na certa foi algo sobre só servir whisky. O homem tomou um trago e eu já tinha me recomposto, pronto para me levantar, pagar e dar o fora dali quando o homem sem braço pegou o copo e virou de uma vez, bateu o como na mesa e começou a contar uma história sobre ele ter sido um pastor que perdeu a mulher e a filha, e ouvia uma voz estranha.

Isto me fez relembrar daquela noite... Eu tinha saído com Barb para comemorar o aniversário dela, eu nem tinha bebido muito por isso fui dirigindo e ela na garupa, rindo, alegre... A noite estava perfeita, o céu estava limpo, estrelado, Barb agora se agarrava a mim, com o rosto apoiado sobre as minhas costas, estava tão quieta que pensei que tinha dormido. Estávamos chegando em casa, quando senti uma vontade latente, quase insana de acelerar, dar um susto na aniversariante para ela ficar bem acordada para o resto da nossa noite. Eu acelerei e ela soltou um grito de susto, eu ri e ela se acalmou, mas eu continuava com vontade de correr, e comecei a acelerar mais, “Bob, pare!” disse Barb enquanto eu acelerava cada vez mais, “Hahaha está com medo dorminh...” eu não pude terminar a frase. Avancei a 120km/h em um cruzamento e só vi a lateral de um ônibus, desesperadamente tentei virar mas era tarde. Por ter tentado virar, Barb não conseguiu se segurar e foi arremessada contra o ônibus, ela morreu na hora, eu bati na traseira do ônibus e acordei 37 dias depois, preferiria ter continuado dormindo...

Parei de relembrar quase ao mesmo tempo em que o homem parou de falar, parece que ele achava que um de nós era o demônio. Ele andou até a porta com uma cadeira, se sentou e sacou uma arma e colocou em cima da perna e pediu mais whisky... O barman fez o que ele ordenou e voltou para trás do bar sem acreditar no que estava acontecendo. O homem tomou um trago olhou para cada um de nós e falou que estava esperando.

Eu não consegui engolir tudo que estava acontecendo, mas senti uma forte vontade de viver...

Música para ouvir: Changes – Black Sabbath

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Uma Noite no Bar - Parte 1 - W. Munny

Hoje em dia é difícil encontrar pessoas compromissadas com as suas obrigações, o moleque que costuma escrever aqui diz estar com bloqueio e sem tempo para escrever, então veio me pedir para escrever alguma coisa, alguma das minhas histórias. Pois bem, agora que já acabei com todos os malditos ratos que perambulavam o meu porão, disponho de tempo para gastar com frivolidades da vida em sociedade.

Certa vez, enquanto vagava pelas vastas e magníficas terras texanas, devo dizer que poucas coisas são melhores que a imensidão desértica para nos fazer pensar, encontrei um bar no meio do nada. Na verdade “tropecei” seria o termo mais correto, eu estava de carro e quase que sem querer avistei o que poderia ser uma trilha, esta me levou a o tal bar.

Devil’s Stick era o nome lido pintado com uma tinta preta em um letreiro de madeira que aparentava ser mais velho que o Texas. O resto do lugar também era todo de madeira, uma porta saloon no meio com uma janela de cada lado onde não era possível saber se tinha vida lá dentro. De repente a minha garganta pareceu mais seca que o maldito inferno e resolvi entrar na esperança de que mesmo que o lugar fosse abandonado, houvesse algum whisky lá dentro.

Ao por o pé lá dentro sentir meu corpo ficar mais frio que o deserto à noite, o lugar tinha quatro mesas com quatro cadeiras cada, sendo que três das quatro mesas estavam ocupadas por três homens, todos inclinados sob os cotovelos contemplando seu próprio copo. O que estava mais no canto do bar tinha a aparência desses malditos motoqueiros, jaqueta de couro, barba e cabelo grandes, 120 quilos. O que estava ao seu lado eu diria que o infeliz estava morto se não o tivesse visto tomar um trago, magro, ossudo, com um paletó surrado e uma camisa social branca por baixo, calça jeans e umas botas que ninguém teria vontade de roubar do possível defunto. E, por fim, o que estava sentado ao lado da mesa vazia possuía uma barba menor que a do motoqueiro, mas muito cheia também, fora a barba, a única coisa q chamava a atenção nesse era que não tinha um braço, uma das mangas da sua camisa xadrez era presa por um alfinete.

Quando consegui tirar os olhos dos clientes procurei pelo proprietário, desta vez a minha espinha congelou quando olhei para o balcão e tinha um cara com uma camisa sem manga que deveria ser branca se fosse lavada, ele estava limpando preguiçosamente um copo e olhando diretamente para mim. “Não vai sentar?” ele disse. Caminhei para a mesa vazia de olho nos demais, nenhum mudou de posição, muito menos tirou os olhos do próprio copo. Quando me sentei o homem do balcão, concluí que era o dono, estava em pé do meu lado com uma garrafa de whisky na mão já enchendo o como na minha mesa. Fiquei intrigado com seu acerto, ele pareceu perceber e soltou um riso “Não se espante, só servimos whisky aqui.”.

Ele voltou para trás do balcão e tornou a limpar o copo e continuou a me encarar. Eu tomei um trago e lhes digo que nunca mais vi um whisky como aquele, o melhor que já provei. Estava começando a relaxar, pensando que encontrei um novo lugar para espairecer quando a noite começou a não fazer sentido algum.

O homem da mesa mais próxima à minha, o que não tinha um braço, virou o seu copo rapidamente, bateu ele na mesa e começou com o discurso que nunca vou tirar da minha mente “Eu era um pastor em uma pequena cidade bem ao sul, tinha uma esposa e uma filha até que certo dia tudo mudou. Era domingo, eu tinha acabado de terminar o culto, minha mulher e a minha filha me esperavam na porta da igreja, quando elas, sem mais nem menos, caíram. Eu corri para elas, mas antes de alcançá-las uma voz surgiu na minha cabeça ‘Elas já estão mortas, eu as matei hehehe’. Eu as peguei em meus braços, mas já estavam geladas. ‘Ora, não fique triste, brinque um pouco comigo’ a voz disse, então uma das portas da igreja desabou sobre mim, eu perdi o meu braço, não estava entendendo nada mas gritei perguntando quem seria, ouvi dizer ‘Quem você acha? Hehehehe, tudo bem, comece a andar, quando quatro gargantas estiverem saciadas, vai me encontrar’. Eu desmaiei, acordei em um pequeno quarto de hospital, desde então comecei a andar, até chegar aqui. Saboreando este delicioso whisky acompanhado por vocês, meus amigos, chegou a hora de aparecer Demônio! Apareça logo e me enfrente, maldito bastardo!!”. Ele deu um soco na mesa que fez o seu copo dar um pulo e cair novamente na mesma posição.

Fiquei feliz em perceber que não fui o único a ficar surpreso com o discurso do homem, todos agora olhavam incrédulos uns para os outros, duvidosos de que um copo de whisky causaria tanto estrago em um homem.

Ele se levantou, pegou a sua cadeira e caminhou até a porta, sentou-se virado para nós. Em um movimento rápido sacou um revólver e o pousou na sua coxa e bradou “Ô patrão, a minha garganta está começando a secar! Traga a minha mesa aqui também, por favor.”.

O homem atrás do balcão pareceu não acreditar na situação, depois de um tempo paralisado pegou a garrafa que estava em cima do balcão, a mesma que tinha me servido, caminhou até a mesa do homem e levou-a até ele, encheu o seu copo e ficou parado olhando para a arma na sua coxa. Obrigado - disse o homem - deixe a garrafa. O barman interpretou como uma permissão para se afastar e lentamente caminhou de volta ao balcão. O homem colocou a arma em cima da mesa, tomou um trago, passou o olhar por cada um de nós e falou em seguida “E então? Estou esperando.”.

Alguma coisa me dizia que seria uma longa noite...

Música para ouvir: Down in Mexico – The Coasters