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quarta-feira, 18 de maio de 2011

Uma Noite no Bar - Parte 1 - W. Munny

Hoje em dia é difícil encontrar pessoas compromissadas com as suas obrigações, o moleque que costuma escrever aqui diz estar com bloqueio e sem tempo para escrever, então veio me pedir para escrever alguma coisa, alguma das minhas histórias. Pois bem, agora que já acabei com todos os malditos ratos que perambulavam o meu porão, disponho de tempo para gastar com frivolidades da vida em sociedade.

Certa vez, enquanto vagava pelas vastas e magníficas terras texanas, devo dizer que poucas coisas são melhores que a imensidão desértica para nos fazer pensar, encontrei um bar no meio do nada. Na verdade “tropecei” seria o termo mais correto, eu estava de carro e quase que sem querer avistei o que poderia ser uma trilha, esta me levou a o tal bar.

Devil’s Stick era o nome lido pintado com uma tinta preta em um letreiro de madeira que aparentava ser mais velho que o Texas. O resto do lugar também era todo de madeira, uma porta saloon no meio com uma janela de cada lado onde não era possível saber se tinha vida lá dentro. De repente a minha garganta pareceu mais seca que o maldito inferno e resolvi entrar na esperança de que mesmo que o lugar fosse abandonado, houvesse algum whisky lá dentro.

Ao por o pé lá dentro sentir meu corpo ficar mais frio que o deserto à noite, o lugar tinha quatro mesas com quatro cadeiras cada, sendo que três das quatro mesas estavam ocupadas por três homens, todos inclinados sob os cotovelos contemplando seu próprio copo. O que estava mais no canto do bar tinha a aparência desses malditos motoqueiros, jaqueta de couro, barba e cabelo grandes, 120 quilos. O que estava ao seu lado eu diria que o infeliz estava morto se não o tivesse visto tomar um trago, magro, ossudo, com um paletó surrado e uma camisa social branca por baixo, calça jeans e umas botas que ninguém teria vontade de roubar do possível defunto. E, por fim, o que estava sentado ao lado da mesa vazia possuía uma barba menor que a do motoqueiro, mas muito cheia também, fora a barba, a única coisa q chamava a atenção nesse era que não tinha um braço, uma das mangas da sua camisa xadrez era presa por um alfinete.

Quando consegui tirar os olhos dos clientes procurei pelo proprietário, desta vez a minha espinha congelou quando olhei para o balcão e tinha um cara com uma camisa sem manga que deveria ser branca se fosse lavada, ele estava limpando preguiçosamente um copo e olhando diretamente para mim. “Não vai sentar?” ele disse. Caminhei para a mesa vazia de olho nos demais, nenhum mudou de posição, muito menos tirou os olhos do próprio copo. Quando me sentei o homem do balcão, concluí que era o dono, estava em pé do meu lado com uma garrafa de whisky na mão já enchendo o como na minha mesa. Fiquei intrigado com seu acerto, ele pareceu perceber e soltou um riso “Não se espante, só servimos whisky aqui.”.

Ele voltou para trás do balcão e tornou a limpar o copo e continuou a me encarar. Eu tomei um trago e lhes digo que nunca mais vi um whisky como aquele, o melhor que já provei. Estava começando a relaxar, pensando que encontrei um novo lugar para espairecer quando a noite começou a não fazer sentido algum.

O homem da mesa mais próxima à minha, o que não tinha um braço, virou o seu copo rapidamente, bateu ele na mesa e começou com o discurso que nunca vou tirar da minha mente “Eu era um pastor em uma pequena cidade bem ao sul, tinha uma esposa e uma filha até que certo dia tudo mudou. Era domingo, eu tinha acabado de terminar o culto, minha mulher e a minha filha me esperavam na porta da igreja, quando elas, sem mais nem menos, caíram. Eu corri para elas, mas antes de alcançá-las uma voz surgiu na minha cabeça ‘Elas já estão mortas, eu as matei hehehe’. Eu as peguei em meus braços, mas já estavam geladas. ‘Ora, não fique triste, brinque um pouco comigo’ a voz disse, então uma das portas da igreja desabou sobre mim, eu perdi o meu braço, não estava entendendo nada mas gritei perguntando quem seria, ouvi dizer ‘Quem você acha? Hehehehe, tudo bem, comece a andar, quando quatro gargantas estiverem saciadas, vai me encontrar’. Eu desmaiei, acordei em um pequeno quarto de hospital, desde então comecei a andar, até chegar aqui. Saboreando este delicioso whisky acompanhado por vocês, meus amigos, chegou a hora de aparecer Demônio! Apareça logo e me enfrente, maldito bastardo!!”. Ele deu um soco na mesa que fez o seu copo dar um pulo e cair novamente na mesma posição.

Fiquei feliz em perceber que não fui o único a ficar surpreso com o discurso do homem, todos agora olhavam incrédulos uns para os outros, duvidosos de que um copo de whisky causaria tanto estrago em um homem.

Ele se levantou, pegou a sua cadeira e caminhou até a porta, sentou-se virado para nós. Em um movimento rápido sacou um revólver e o pousou na sua coxa e bradou “Ô patrão, a minha garganta está começando a secar! Traga a minha mesa aqui também, por favor.”.

O homem atrás do balcão pareceu não acreditar na situação, depois de um tempo paralisado pegou a garrafa que estava em cima do balcão, a mesma que tinha me servido, caminhou até a mesa do homem e levou-a até ele, encheu o seu copo e ficou parado olhando para a arma na sua coxa. Obrigado - disse o homem - deixe a garrafa. O barman interpretou como uma permissão para se afastar e lentamente caminhou de volta ao balcão. O homem colocou a arma em cima da mesa, tomou um trago, passou o olhar por cada um de nós e falou em seguida “E então? Estou esperando.”.

Alguma coisa me dizia que seria uma longa noite...

Música para ouvir: Down in Mexico – The Coasters

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